domingo, 27 de janeiro de 2008

IDENTIFICANDO O SANTO MILAGROSO

Maracanã, 23 de Novembro de 2007.
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O QUE FOI?
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Que milagres acontecem, todo mundo sabe, mas identificar o Santo Milagroso é o mais difícil. A questão é explicar o que gerou a absurda escalada do Flamengo à glória em que nos encontramos.
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Foram os jogos adiados?
Não há nenhum critério objetivo pra se avaliar esta questão. O fato é que o Joel Santana teve muitas vantagens por jogar vários jogos em casa e muito desgaste pela longa seqüência de partidas. E também é claro que o Ney Franco teve muita dificuldade em manter um desempenho razoável jogando apenas fora de casa e muito tempo pra trabalhar durante as várias semanas que teve sem jogos. O Ney não jogava em casa, fez 37% de aproveitamento de pontos fora do Rio e hoje esse desempenho o poria como 6º melhor fora de casa. Mesmo assim foi demitido.
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Foi o Joel Santana?
O Ney Franco teve aproveitamento de 33% em 12 jogos no Brasileiro e o Joel tem 64% em 24. Ou seja, o dobro de aproveitamento no dobro de partidas. Dos 58 pontos do Flamengo, 12 são do Ney e 46 do Natalino. Portanto, está clara a mudança ocorrida com o Joel, mas ela não explica tudo, pois nos 2 primeiros meses de trabalho dele o time teve um desempenho muito irregular e conseguiu apenas 1 ponto em 15 disputados fora de casa. Deu até saudade do Ney Franco.
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Foi o Maracanã?
O aproveitamento no estádio é de impressionantes 70%, abaixo apenas do São Paulo no Morumbi e do Grêmio no Olímpico. Mas aí é que está a questão. Se perdemos pro Grêmio nesse quesito, estamos na frente deles por outro motivo qualquer, além da nossa capacidade de jogar bem em casa. Por exemplo, antes do Pan o Flamengo jogou 3 vezes no Maracanã e conseguiu míseros 2 pontos, com 22% de aproveitamento. É número pra brigar com o América Potiguar.
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Foram os jogadores contratados?
É decisiva a participação de alguns jogadores contratados no meio do ano. Chegaram e viraram titular imediatamente Fábio Luciano, Cristian, Ibson, Roger e Maxi (meio time). O Roger logo perdeu a vaga, o Maxi depois. Mas os 3 primeiros continuam jogando muito. Mas há um porém, contando os jogos a partir da estréia de cada um, vemos que o time não depende de ninguém especificamente. O Fábio Luciano ficou de fora de 2 jogos e o Flamengo conseguiu 2 vitórias, o Ibson não atuou em 4 partidas (com 2 vitórias e 2 empates), o Roger não jogou 12 (e fizemos 24 pontos sem ele) e conseguimos 50% de aproveitamento nos 8 jogos sem o Maxi. Apenas o Cristian é um caso à parte. O time fez 50 pontos nos 25 jogos em que ele esteve em campo e levou duas porradas quando ele não jogou (Atlético-PR 2x0 e Inter 3x0). Mas outros jogadores que já estavam no clube têm índices altos também, como (pela ordem de desempenho) Léo Moura, Ronaldo Angelim, Bruno, Souza e Toró, todos com o time tendo um aproveitamento de pontos muito maior com eles em campo do que fora (coisa que, dos novatos, só o Cristian e o Maxi têm, e este último em menor grau).
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Então, meu Deus, o que foi que aconteceu?
O craque do Brasileirão estava do nosso lado. Aliás, nós somos ele. Segundo um comentarista do Arena Sportv que eu não tenho a menor idéia de como se chama, o craque do Brasileirão 2007 é a torcida do Flamengo. Por dois motivos: em primeiro lugar pelo fato de nenhum jogador ter se destacado muito em relação aos outros que tiveram boas atuações ao longo do campeonato; e em segundo lugar porque ele nunca viu uma torcida ganhar tantos jogos como a do Flamengo ganhou nos últimos 3 meses. E eu digo mais. A arrancada final rubro-negra teve data, hora e local pra acontecer. No dia 29 de setembro às 19h estávamos todos no Maracanã no intervalo de Flamengo 0x0 Atlético-MG, jogo murrinha pra caramba, e foi quando eu vi pela primeira vez uma torcida cantar durante todo o intervalo de um jogo 0 a 0, 20 minutos seguidos na mesma música, sem parar.
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Era o início do "Eu sempre te amarei". Talvez quiséssemos apenas incorporá-la, ou então estávamos querendo pôr o dedo no nosso futuro. De uma forma ou de outra, deu certo. Desde a chegada do Joel Santana até aquela noite o Flamengo fingia mas não ia, acumulando 52% de aproveitamento dos pontos disputados e média de público de 35 mil no Maracanã. Coisa muito melhor que os 33% do Franco (com 12 mil de média, uma pequena vergonha), mas que apenas nos daria, com muita sorte, uma vaguinha na rabeira da Sul-Americana. Depois daquele canto ininterrupto, com os jogadores indo e voltando do vestiário ouvindo a mesma coisa, o leão Cristian fez o seu único gol no campeonato, nos deu a vitória e o início do tiro final. Desde aquele dia o Flamengo jogou 10 vezes, com 8 triunfos e 80% de aproveitamento, coisa que nem o São Paulo sonha fazer. E a média de público no Maraca, que de 12 passara pra 35 mil com a chegada do Joel, desde aquele intervalo santo está em 61 mil pagantes.
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Como, felizmente, os números não sabem mentir, está aí a prova matemática de que o milagre não foi proporcionado pelo Papai Joel nem pelo Ibson ou Fábio Luciano, Cristian, Léo Moura, Bruno, Márcio Braga, Kléber Leite, jogos adiados ou simplesmente a volta ao Maracanã. O milagre começou no nosso berro, naquela noite. E desde então a gente ganha de qualquer um apenas no grito. E que Deus tenha piedade da próxima vítima, o Atlético-PR.
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