terça-feira, 27 de maio de 2008

O JAÍLTON É MATADOR

FLAMENGO 2x1 INTERNACIONAL
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Eu não sei se estou tentando fazer uma análise fria dos fatos ou se apenas quero aparecer, mas, infelizmente, vou cometer o insano absurdo de defender o Jaílton. As vaias foram merecidas (como todas as vaias da massa), e não, obviamente, por aquele passe errado que esgotou a paciência geral. O Obina pode jogar muito mal um jogo, pode errar um passe daqueles, e não será vaiado. O mesmo vale pro Fábio Luciano, Angelim, Toró, Ibson e tantos outros que conquistaram o respeito da torcida. O Jaílton está bem longe, nesse ano e pouco que está na Gávea, de ter conquistado qualquer coisa, além de reais em depósito em conta corrente. O time inteiro estava horrível, não havia espaço pra jogar, e houve uma infinidade de passes errados. No 1º tempo, o Inter deu uma aulinha de como se deve jogar bola. O Alex, o Fernandão e o Nilmar não arrebentaram porque são talentosos. Havia, taticamente, o esquema perfeito pra que eles fizessem o que sabem. Havia um monte de espaço pra eles jogarem.
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A sorte do Fla foi que fomos pro intervalo só com 1x0. No 2º tempo, a coisa foi outra, com a disposição do time e a marcação pressão pré-acordada, com cada um com a sua função (ou seja, os jogadores correndo certo, bem diferente de antes, quando o Caio mandou o time copiar o Inter e as baratas tontas ficaram suando em círculos). Depois do intervalo, a situação se inverteu: quem ficou sem espaço pra jogar foram eles e, com os berros da arquibancada, a coisa fluiu. O Flamengo precisou de 10 minutos, apenas 10 minutos jogando como o Flamengo, pra vencer um timaço, o futuro vice-campeão brasileiro de 2008. Disseram que o Inter não jogou bem no 2º tempo, mas esqueceram de avisar que, com aquela pressão vinda de baixo e de cima, nem Pelé joga.
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O Jaílton foi o jogador que mais roubou bolas no jogo, com média de 1 roubada a cada 11 minutos. E não foi dos que mais erraram passes no time do Flamengo. Enfim, não teve uma atuação tão ruim quanto pareceu ("Dez minutos sem Jaílton e jogo resolvido"). O problema dele é o histórico, é a falta de confiança que temos no rapaz, é, nesse jogo, o azar do erro de passe, num contra-ataque, logo depois do gol do Inter, de um jogador que ninguém acha que merece jogar na Gávea. Foi a gota d'água que, provavelmente, tirou ele do Flamengo. Eu estou enrolando, mas tenho que dizer: eu gosto do Jaílton. Eu e a mãe dele achamos que o cara é bom. Não é excepcional, não está acima da média. Mas também não está abaixo dela, como o Diego, por exemplo. Talvez ele não seja um cara pro Flamengo, ainda mais com esse elenco de hoje, com Toró, Rômulo, Cristian, Jônatas, Gavillán...
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O problema do Jaílton, basicamente, é o excesso de faltas que ele faz. Mas tem o outro lado: segundo o Globoesporte.com, no campeonato brasileiro, o Flamengo é líder em roubadas de bola. Quase 2/3 desses desarmes é fruto do suor do trio de ferro "Angelim, Jaílton e Toró". O Jaílton é o 6º maior roubador de bolas nessas três rodadas, entre todos os jogadores do campeonato. Levando em conta que o Toró é o líder isolado nesse quesito, e o Angelim está em 5º, chega-se a conclusão simples de que há apenas 3 jogadores mais eficientes que o Jaílton entre todos os adversários do Flamengo, na análise dos desarmes. Ou seja, ele pode ser qualquer coisa, menos ruim. Imagino que ele deva ter vida longuíssima na Série A do Brasileirão. Acho que ele só não tem vaga em 4 times: Flamengo, São Paulo, Palmeiras e Cruzeiro. Nos outros 16, joga fácil, fácil. (É infinitamente melhor que o Ygor, por exemplo, titular tricolor na Libertadores.)
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Sei que o Jaílton é matador. Mata a torcida de susto toda a hora. Mas o time não venceu no sábado porque o Jônatas é melhor do que o Jaílton. Isso, até a Rainha da Inglaterra, a nobre senhora Bete, já sabe. O Flamengo ganhou porque jogou 10 minutos e virou o jogo. O Jaílton e o Jônatas jogam tão diferentes, em posições tão distintas, quanto o Bruno e o Obina. Quanto o Michael Jordan e o Tiger Woods. A mudança de sábado foi tática. A diferença técnica, a genial bola do Jônatas, ajudou muito, mas não foi ele que ganhou o jogo. Nem foi o Jaílton que perdeu o 1º tempo.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

POR QUE, DE NOVO, O ABSURDO NOS ACONTECE?

FOI IGUAL AO ANO PASSADO. SERÁ IGUAL NO ANO QUE VEM?
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Como explicar o inexplicável? A derrota de ontem, pro lanterna do campeonato mexicano, num Maracanã com mais de 50 mil pessoas, nem o América esperava. 3 a 0, então, surpreendeu até o Barbosa, independente de onde ele esteja. Vários analistas de plantão deram as suas versões pro ocorrido, e a imensa maioria dessas análises foram rápidas e fáceis. Pode-se dividir esses analistas em três categorias.
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A primeira categoria trata do analista de resultado (exemplo: Muricy Ramalho). Não viu o jogo, não viu o compacto, não viu os melhores momentos, não viu nem os gols. Soube do resultado pela imprensa e, imediatamente, formou a sua opinião. Ele já sabe que o Flamengo menosprezou o América, que achou que a classificação estava garantida lá no México e recebeu a punição que deveria ter recebido. Falta de respeito, no futebol, dá nisso.
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A segunda categoria é referente ao pós-analista (exemplo: Eric Faria). Viu o jogo, se surpreendeu com o que aconteceu, e logo após o fim da partida começou a questionar tudo o que ocorreu nos últimos três dias na Gávea, associando as festas à derrota de ontem. Mas ele acompanhou todas as comemorações e festejos desde o domingo, e não disse nada, só respaldou as celebrações em suas matérias diárias. Ele só sugere o porquê da derrota após ela acontecer. Antes, ele prefere manter segredo.
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E a terceira e última categoria, a que eu prefiro, é a do analista boquiaberto (exemplo: Sérgio Noronha). Não sabe o que dizer, não tem o que falar, apenas está catatônico com a catástrofe. Se sente tão culpado pela derrota quanto os jogadores, e acha que todos deveríamos ter dado mais atenção a esse confronto.
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Todos estes analistas estão cobertos de razão, como sempre, e tivemos ainda algumas outras opiniões: o Lédio Carmona disse que o Flamengo jogou muito mais, correu, tentou, lutou, mas tudo deu errado, e o América se aproveitou de uma noite rubro-negra extremamente infeliz. Já o Joel achou que eles fizeram um monte de gols com a bola resvalando em alguém e caindo no saco, enquanto o Cristian classificou os gols tomados como “bobos”. (Eu já acho que bobo sou eu, que fui ver esse jogo.)
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O milagre mexicano, ou a catástrofe rubro-negra, começou a se desenhar há muito tempo atrás. Desde a formação do universo que o Flamengo vive de ataque. Qualquer time rubro-negro, em qualquer situação, dentro de casa, tem que atacar, tem que ganhar, tem que golear, massacrar, detonar... E é isso que alimenta a torcida. A alma rubro-negra vive de pressão, muita pressão em cima do adversário, sempre. Desde Adão e Eva as coisas funcionam assim na Gávea. E isto é ruim?
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Impossível avaliar. Até porque todas as conquistas nossas foram baseadas nessa forma de existir. Tudo que o Flamengo levou pra casa, ele levou assim, pressionando, buscando e mordendo. E muita dessa pressão vem da arquibancada. O torcedor obriga o time a avançar, a agredir, a atacar. E foi desta forma que construímos a maior torcida do mundo – solidária na saúde ou na doença, até que a morte nos una na eternidade.
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Portanto, esse é o nosso melhor: a necessidade de vencer, mesmo quando não precisamos. Mas é fato que essa busca, incontrolável e obsessiva, tem nos custado campeonatos importantes. O Flamengo se expõe em situações absurdas, quando essa exposição excessiva só interessa ao adversário, que é presenteado com a possibilidade de contra-ataques, quando o normal seria ele ter que se expor. Mas no Flamengo não, ninguém precisa correr riscos, porque nós os corremos por nós mesmos e por quem mais quiser.
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No dia 2 de Maio de 2007, às 11 horas da noite, estávamos nas oitavas da Libertadores, no intervalo de Defensor 1x0 Flamengo. Na mesma hora, pela mesma competição, tínhamos o mesmo 1x0, no Morumbi, pra São Paulo x Grêmio. Ou seja, cariocas e gaúchos estavam exatamente iguais. Jogando a primeira partida fora de casa e tomando de 1x0 no intervalo. Os técnicos dos times que estavam perdendo foram entrevistados pela Rede Globo, que fazia os dois jogos ao vivo. O Ney Franco disse que iria trocar um ou dois jogadores, e o Flamengo viraria aquele jogo mole. O Mano Menezes falou que o jogo estava bom daquele jeito. O Ney, que achou aquilo ruim, mandou o Mengão pra frente e tomou de 3x0. O Mano, com opinião contrária, segurou o São Paulo e garantiu uma derrota mínima. Nos jogos da volta, uma semana depois, ambos os times, Flamengo e Grêmio, ganharam em casa por 2x0. O Mengão dançou, o Grêmio não.
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No dia 26 de Novembro de 2000, o Cruzeiro estava nas oitavas do campeonato brasileiro, e jogava o jogo da volta contra o Malutrom, no Mineirão. Na ida, no Paraná, o Cruzeiro ganhara de 3x0, e, logo no início do jogo em Minas, abriu o placar e resolveu cozinhar o resto da partida. Bola pra lá, bola pra cá... Faltando 5 minutos pra acabar o jogo e o confronto, o Malutrom empatou e o Mineirão inteiro, lotado, que tinha ido lá pra ver um show, começou a vaiar. O Felipão não entendia direito o que estava acontecendo. Pro gaúcho, o jogo estava 4x1 pro Cruzeiro, o que seria motivo de festa. Pro mineiro, ocorria ali um empate vergonhoso contra um time medíocre, e em casa! O choque cultural foi intenso, e não houve solução. O Felipão pedia pras pessoas aplaudirem e a arquibancada vaiava. (A mesma coisa aconteceu anteontem, no Maracanã, entre outro técnico gaúcho e vários outros torcedores cariocas.)
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Em 1996, no Brasileirão, o Grêmio brigava pelas primeiras posições na tabela quando foi jogar contra o quase rebaixado Fluminense no Olímpico, precisando de uma vitória simples pra se classificar: venceu por 4x2 e teve festa na arquibancada. Pois bem, nos três jogos seguintes, o Grêmio de Felipão perdeu três vezes e voltou ao Olímpico, na última rodada, pra jogar contra o Goiás, que precisava da vitória pra garantir a sua classificação. Ou seja, o Goiás tinha que vencer, mas o Grêmio não. O jogo foi 3x1 pros goianos, a quarta derrota seguida do tricolor gaúcho e... Festa na arquibancada! Assim são os gaúchos, assim são os uruguaios, assim são os argentinos.
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Nós, cariocas e rubro-negros, temos uma história no futebol muito distinta e, por isso, vemos o jogo completamente diferente. Conquistamos muita coisa assim e ainda temos muito a ganhar com isso. Mas não a Libertadores da América.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

O PRIMEIRO DOMINGO RUBRO-NEGRO

O DIA EM QUE A NOSSA SAGA COMEÇOU
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A primeira final de campeonato carioca não estava prevista no regulamento. Em 1921, Flamengo e América terminaram a disputa por pontos corridos, em turno e returno, empatados com 15 pontos ganhos. Um jogo extra foi realizado pra decidir o título carioca, em 4 de setembro de 1921, nas Laranjeiras (tinha que ser na casa do papai), lotada de flamenguistas nos assentos mais baratos, há dois dias esgotados. A gana rubro-negra, a fome de finais, começou aí, quase sem querer. Era a primeira final do Flamengo, e a primeira do Rio. O América fez 1x0, num frango do ídolo Julio Kuntz, tão famoso e competente quanto o Bruno. A dez minutos do fim do jogo, o Flamengo empatou com Nonô, o centroavante de 2 metros de altura, e artilheiro do campeonato, forçando a prorrogação. Quando, aos 7 minutos do tempo extra, Avellar, do América, matou a bola no peito pra sair jogando e errou o domínio, a bola fugiu procurando um rubro-negro. O chute certeiro, de primeira, de Aníbal Médici Machado, o Aníbal Candiota, deu o título ao Flamengo e, muito mais do que isso, fez com que aquele clube rubro-negro se encontrasse com o seu futuro de glórias em jogos decisivos, em finais, e em estádios abarrotados de gente.
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Mas era apenas o primeiro domingo rubro-negro.

terça-feira, 6 de maio de 2008

O FIM DA HISTÓRIA

O MANEQUINHO DEVERIA SER MAIS MANIQUEÍSTA
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O Romário disse, há algum tempo atrás, que poucas pessoas entendem o que significa o Eurico Miranda pro Vasco. Quando ele, Romário, começou a sua carreira, a mentalidade vascaína era uma. Após a sua volta ao Vasco, em 2000, ele notou que havia algo de novo na Colina. Em sua primeira passagem, o Vasco conquistara vários títulos e perdera outros tantos. Mas, segundo o Romário, a segunda-feira pós-derrota era um dia quase normal, quase-nada-demais. Era ruim perder? Era péssimo. Mas o técnico continuava técnico, o vice de futebol estava sempre tranqüilo e o presidente não sofria pressões. Não havia caça às bruxas nem brigas internas. Uma semana depois, ninguém mais lembrava do que tinha acontecido. O Romário, após a sua primeira saída, ficou 12 anos longe de São Januário.
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Nesse período, o Eurico Miranda ganhou força, se tornou "presidente vitalício", e deu ao Vasco o maior time e a maior fase de conquistas de toda a sua história. Mas isso todo mundo sabe. O que só o Romário viu, foi a mudança de paradigma, de referência. O Vasco, segundo o baixinho, se comportava agora exatamente como o Flamengo, nos 5 anos em que ele ficara na Gávea. Podia ganhar, ou perder. Mas, em caso de derrota, até o porteiro era demitido. Sempre foi assim na Gávea, e assim passava a ser em São Januário. O inconformismo com a perda, ou a necessidade da vitória, passava a ditar os rumos dos vascaínos.
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Mudar a mentalidade de um time, de um clube e, principalmente, de sua torcida, é coisa pra ser feita em décadas. O Eurico fez em alguns anos. O José Carlos Araújo disse uma vez que tomou um susto quando viu algo que nunca tinha presenciado antes: um grupo de meninos, todos com a camisa do Vasco, num bairro da zona sul do Rio de Janeiro. O Romário já estava de volta ao Vasco nessa época, e provavelmente se assustou também. Porque é a intolerância com a derrota que gera a busca incansável pela vitória. E, com isso, você cria conquistas e forma novos torcedores. (E é essa gana que faz uma torcida comprar 50 mil ingressos em um único dia de vendas, que faz um lateral direito comemorar, com raiva, uma falta mal batida pelo adversário.)
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Não tenho absolutamente nada a favor do Eurico, mas é difícil arrumar argumentos contra um depoimento desses, de alguém que conheceu dois Vascos, e que conseguiu expressar o abismo de diferença que havia entre eles. Hoje em dia, por exemplo, o Vasco está numa fase horrível, sem títulos há 5 anos. E, exatamente por isso, toda a hora cai um coordenador, volta e meia um técnico é demitido. Tem gente que acha isso errado. Eu penso que não é uma questão de avaliação de planejamento, é simplesmente a forma como o clube se vê diante de um sucesso ou um fracasso. No Flamengo, por exemplo, esse título carioca de 2008, inclusive por ser o trigésimo estadual do clube, pôs no paraíso todos aqueles que participaram da conquista. Mas, se tivessem perdido as duas partidas das finais, nem o massagista ficaria vivo. Ou seja, não há meio termo, não há dúvidas: ou os caras são os heróis da massa, ou vai todo mundo pro buraco. Sempre foi assim no Flamengo, e, desde o Eurico, é assim no Vasco. (Trata-se do maniqueísmo de resultados.)
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Mas, por incrível que possa parecer, eu estou aqui pra falar do Botafogo. General Severiano que se cuide, pois essa festa toda que a torcida está fazendo pro Cuca e seus jogadores é altamente louvável, digna e mostra o quanto essas pessoas se identificam com quem trabalha sério pelo clube. Mas, por outro lado, essa dedicação efusiva pode estar escondendo uma resignação coletiva que funciona como uma âncora no pescoço do manequinho. O conformismo alvinegro não me surpreende, mas mostra como somos diferentes, e o que essa diferença representa. Porque a resignação é irmã gêmea da complacência. E os condescendentes torcedores alvinegros podem estar dando o aval pra última tacada: "Fique Cuca, fique quanto tempo você quiser, pois aqui no Botafogo, a simpatia, a hombridade, o respeito e o caráter nos bastam. Ganhar ou perder é o que menos importa."
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"Não acho o fim do mundo ter perdido essa decisão." Essa é a frase que está num blog da torcida do Botafogo, na Globo.com, e exprime exatamente o que estou dizendo. A questão é que essa simpatia incondicional com o fracasso, queiram ou não, uma hora, cansa. Depois de longos períodos de derrotas consecutivas, qualquer um perde a paciência e, simplesmente, não tem mais força nem pra reclamar. O torcedor pára de comprar ingressos, desliga a televisão e vai cuidar da sua vida. Ele pára de se importar e, claro que sem querer, empurra o clube rumo ao inferno. Este sentimento geral dos alvinegros, nesta segunda-feira pós-derrota de campeonato pro seu maior rival, contrasta drasticamente com o sentimento padrão do rubro-negro, que morre, na arquibancada do Maracanã, a cada título perdido. O fim da história de glórias botafoguenses parece estar cada vez mais próximo, porém, na verdade, mais cedo ou mais tarde, e por bem ou por mal, o torcedor do Botafogo vai entender, como o rubro-negro e o vascaíno já entenderam, que time que pode perder não tem a menor chance de ganhar. (E tudo estará resolvido.)

segunda-feira, 5 de maio de 2008

NASCE UM NOVO CLUBE CARIOCA!

EXTRA! EXTRA!
NASCE UM NOVO CLUBE CARIOCA!
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Nas últimas 10 temporadas do futebol carioca, incluindo 2008, o Flamengo conquistou nove títulos (entra na conta o trigésimo título estadual, conquistado ontem). O Vasco teve quatro conquistas, o Fluminense três, e o Botafogo, umazinha. (O título tricolor da Série C em 1999 não é contabilizado, pois só vale título da primeira divisão.) Com isso, temos o fato de que o Flamengo levou nove canecos e a torcida arco-íris, oito. Aliás, há muito tempo essa disputa está acirrada, entre o Flamengo e o resto, ao contrário do tédio das rivalidades clubísticas individuais, com Vasco e Botafogo disputando para ver quem vai ser o vice do Flamengo, eterno campeão.
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Surge agora a notícia que trará de volta a emoção ao futebol do Rio. Fluminense, Vasco e Botafogo negociam uma fusão, para criarem um clube à altura do Flamengo. Juntos eles teriam mais força política e de patrocínio, pois possuem, somados, segundo a última pesquisa do Datafolha, a metade da torcida rubro-negra, o que já é bastante para bons negócios. E, unidos sob uma única bandeira verde-vermelha-preta-e-branca, com uma cruz de malta grená no meio, eles teriam a possibilidade de disputar com o Flamengo para sabermos quem é o maior papão de títulos no futebol do Rio.
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Vejam como esse clube já nasce grandioso: possui nenhum título mundial, mas tudo bem. Tem uma Libertadores da América, como o Flamengo, seis títulos brasileiros contra cinco do Flamengo, e uma Copa do Brasil, contra duas do Flamengo. Enfim, percebam que a disputa é acirrada: contando apenas esses títulos mais importantes, o resultado fica 9x8 (de novo!) para o Flamengo, ou seja, muito mais emoção em comparação com o que tínhamos até aqui. A grande nova é que, pela primeira vez na história do futebol carioca, teríamos uma rivalidade de verdade, como Corinthians x Palmeiras, Cruzeiro x Atlético, ou Inter x Grêmio.
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A Nação Rubro-Negra (A Maior Torcida do Mundo) dá boas vindas e deseja muita sorte ao recém-nascido ARCO-ÍRIS FUTEBOL CLUBE, o 1º time tetracolor do mundo!

O DIA SEGUINTE

COMO SE COMPORTAR APÓS MAIS UM TÍTULO RUBRO-NEGRO
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Maracanã, 5 de Maio de 2008.
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É muito importante que se criem regras de comportamento pra Massa Rubro-Negra, e assim evitaremos chutes em cahorros mortos. Vou tentar me controlar, mas não garanto nada.
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O TÍTULO FOI MERECIDO?
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O Flamengo terminou o Carioca 2008 com 47 pontos em 20 jogos (78% de ap.) e o Botafogo conquistou 46 pontos em 21 jogos (73%). Fluminense (37 pontos) e Vasco (32) ficaram muito atrás.
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O BOTAFOGO FOI MELHOR NOS CLÁSSICOS?
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O Fogão jogou 9 clássicos no campeonato, venceu 6 e perdeu 3. As três derrotas foram nas três finais que ele jogou contra o Flamengo (Taça GB e finais do Estadual). Contando apenas os jogos decisivos, semifinais e finais, o Botafogo ganhou 3 e perdeu 3 (50% de ap.), e o Flamengo venceu 4 e perdeu 1 (80%). Se avaliarmos só as 4 finais do campeonato, o Flamengo possui 100% de aproveitamento (3 jogos, 3 vitórias) e o Botafogo, 25% (1 vitória em 4 jogos).
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ENTÃO COMO O BOTAFOGO FOI CONSIDERADO O MELHOR EM CLÁSSICOS?
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O Botafogo conseguiu as suas vitórias em clássicos jogando com seu time titular contra os reservas de Flamengo e Fluminense, que disputam a Libertadores. E, principalmente, pelo fato de ser ele, o Fogão, o rei das semifinais do Carioca 2008, com 100% dos pontos conquistados, contra 50% do Flamengo e 17% de Fluminense e Vasco.
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Ou seja, o Botafogo é o melhor semifinalista do campeonato. Ninguém mostrou tanta capacidade de ganhar uma semifinal como o Fogão. Se tivéssemos disputas futebolísticas que acabassem nas semifinais, o Cuca já seria campeão há muito tempo.
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(Quase que eu consigo me controlar.)

MENOS DUAS MENTIRAS PRA CONTAR

AS MENTIRAS ALVINEGRAS SÃO SOLÚVEIS EM ÁGUA
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Maracanã, 30 de abril de 2008.
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A frente fria e a chuva que chegaram hoje ao Rio de Janeiro mostram que as mentiras de Botafogo não resistem a um pingo d'água.
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Mentira:
"O Botafogo é o dono da melhor campanha do Carioca 2008."
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Fato:
O Botafogo tem até agora 15 vitórias, 1 empate e 4 derrotas, em 20 jogos. 46 pontos ganhos e aproveitamento de 76,7%
O Flamengo possui 14 vitórias, 2 empates e 3 derrotas, em 19 jogos. 44 pontos ganhos e aproveitamento de 77,2%
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Mentira:
"O Botafogo é o melhor em clássicos, com 6 vitórias em 8 jogos."
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Fato:
O Botafogo jogou 5 clássicos decisivos, venceu 3 e levou 60% dos pontos em disputa.
O Flamengo jogou 4 clássicos decisivos, ganhou 3 e levou 75% dos pontos em disputa.
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P.s. Em 3 de outubro de 2007, há 7 meses atrás, foi o último jogo que o Botafogo tinha terminado sem fazer nenhum gol. A gente não tem idéia de como é difícil, pros outros times do mundo, parar o ataque do Botafogo. Só Joel Salva.
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P.p.s. Nunca vi na minha vida o que eu vi ontem, numa terça-feira. Na terça da semana passada, as bilheterias estavam vazias. Hoje no Botafogo, a fila ia quase no túnel. No Fluminense, tava subindo o morro, e no Flamengo teve nego esperando 7 horas pra comprar. Mas nenhuma dessas filas chegavam aos pés da fila do Maracanã. Cheguei agora em casa e acabei de ver que venderam ontem 50 mil ingressos, recorde brasileiro de vendas em um único dia. Quantos botafoguenses compraram?

A (DES)IMPORTÂNCIA DO JOGO EM CUZCO

ERRATA EM O GLOBO
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Maracanã, 9 de abril de 2008.
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Ontem, o Jornal O GLOBO publicou a matéria "A importância do jogo em Cuzco", dizendo que o Flamengo não poderia perder hoje no Peru, se quisesse continuar dependendo de suas forças para se classificar na Libertadores. Ou seja, em caso de derrota, dependeríamos do resultado de Nacional x Cienciano para se classificar.
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A Assessoria especial do Jornal O GLOBO (no caso, eu) entrou em ação e mandou um e-mail com as correções, pedindo que uma ERRATA fosse publicada hoje, antes do jogo. O Jornal respondeu este e-mail enviado, pedindo mais detalhes desta maravilha que é a matemática. Em seguida, foram enviados os detalhes requisitados.
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Hoje, em O GLOBO, na página principal do caderno de esportes, está lá, grande e em negrito (ou "granito", dependendo da origem do cidadão) a informação correta: "Mesmo se perder, Fla depende de si". A matéria mostra alguns dos detalhes enviados pela Assessoria. Infelizmente, não mostra todos.
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Mas está muito bom. Encerro como encerrei o meu e-mail para os matemáticos do jornal: "Time que pode perder tem muito mais chances de ganhar".
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Boa sorte a todos hoje à noite,
Tomás.
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P.s. abaixo, os detalhes da matemática:
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----- Original Message -----
From: <
tom...@terra.com.br>
To: <
ton...@oglobo.com.br>
Sent: Tuesday, April 08, 2008 4:15 PM
Subject: Re: Fale com o Jornal O Globo - Editoria de Esportes
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Se o Flamengo perder em Cuzco por 1x0 e vencer o Bolognesi, no Maracanã, por 4x0, ele estará classificado, independente do resultado de Nacional x Cienciano. Porque o Flamengo chegará aos 10 PG com +3 gols de saldo e não poderá ser ultrapassado pelos dois outros concorrentes. Será, necessariamente, ultrapassado por Nacional OU Cienciano, mas nunca pelos dois. Ficará em segundo do grupo e se classificará. A matéria de hoje, em O GLOBO, sob o título "A importância do jogo em Cuzco", diz o contrário. Que se o Flamengo perder no Peru, ele dependerá de uma vitória do Nacional sobre o Cienciano, na última rodada, para se classificar. O que não é verdade. Mesmo sendo derrotado, o Flamengo continuará dependendo apenas de si para se classificar para as oitavas. E depender apenas de si faz toda a diferença. (O Renato Maurício Prado comete o mesmo erro, implicitamente, também hoje, em sua coluna.) Por favor, rapaz, ajude um rubro-negro sofredor. Publique amanhã, antes do jogo, esta correção. Porque eu sei que tudo o que sai em O GLOBO, obviamente, chega aos jogadores do Flamengo. E, volto a dizer, time que pode perder tem muito mais chances de ganhar. Muito obrigado pela atenção.

LIBERTADORES É PRA MAIORES DE IDADE

(SE O FLAMENGO QUISER CRESCER...)
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Maracanã, 7 de Março de 2008.
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Que o Flamengo não existe sem o Maracanã e sua torcida, todo rubro-negro já sabe há muito tempo. Mas a derrota de ontem, 3x0 pro Nacional, no Uruguai, não deixou o Flamengo na situação difícil que estão dizendo por aí, inclusive o papai Joel. Ontem, um empate bastava pro Flamengo "eliminar" o Nacional no jogo da volta, mas papai escalou o time pra ganhar, Toró bateu em criancinha, Léo Moura esqueceu a chuteira na costela do uruguaio, Fábio Luciano confundiu rosto dos outros com tapete, Ibson tentou expulsar o árbitro e o Bruno fingiu que era o Diego. Tudo bem, merda feita, merda passada. Agora, teremos que ficar à frente do Cienciano, pra não depender de ninguém. E a altitude? Ai, meu Deus! Quem poderá nos salvar? O Chapolin salva, mas a história também.
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O Cienciano estreou na Libertadores em 2002 e, até o ano passado, jogou 5 das 6 edições que foram disputadas entre 2002 e 2007. Hoje ele está em sua sexta participação, só ficando de fora em 2003. Das 5 Libertadores que ele jogou, o Cienciano foi eliminado na primeira fase 3 vezes e caiu nas oitavas de final em 2002, ano de sua estréia, perdendo o jogo de ida, em Cuzco, por 1 a 0, pro América do México (que joga em casa a 2.200 metros - altitude que não gera efeitos relevantes). Em 2005, foi eliminado na pré-Libertadores, pelo Chivas Guadalajara (que joga em casa a 1.600 metros), perdendo em Cuzco, tão temida cidade, por 5x1!
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Entre 2002 e 2007, o Cienciano jogou 14 jogos pela Libertadores no Peru, com 8 vitórias e 6 derrotas (57% de aproveitamento). Jogou 12 jogos em Cuzco, com 7 vitórias e 5 derrotas (58% de ap.). E, desde 2005, jogou 7 jogos em sua cidade, com 3 vitórias e 4 derrotas (43%). 43% de aproveitamento, é bom repetir. Número igual ao do Flamengo em seus últimos 6 jogos fora de casa, pela Libertadores (2 vitórias, 2 empates, 2 derrotas. e 44% de aproveitamento). Só que o Flamengo ganhou os últimos 5 jogos no Maracanã e, 100% de aproveitamento, não é um índice pra peruanos.
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O Flamengo precisa crescer e entender que, em jogos na altitude de Cuzco, a qualidade técnica individual berra e os efeitos da falta de oxigênio mia, bem baixinho. Por exemplo, o Bolívar, de La Paz, capital mais alta do planeta, foi a Cuzco e perdeu de 5x1. Obviamente, não sentiu os efeitos da altitude, mas o time é uma porcaria, vai fazer o quê? O São Paulo foi a Cuzco e venceu o Cienciano por 2x0, simplesmente porque o time era bom, ora bolas, e o Cienciano sempre foi uma porcaria em Libertadores.
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O Flamengo tem que se preocupar mesmo, de verdade, com o Boca Juniors, e depois com o Arsenal e o Manchester United. O Cienciano, a gente vai lá, joga e ponto final. Sem dramas, sem levar uma derrota na bagagem, sem perder na véspera. Até porque todos sabem que quem morre de véspera não somos nós e, sim, o peru. (Perdão, tentei muito mas não consegui evitar.)
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O Flamengo foi a Potosí e ainda não voltou. Aquela viagem rubro-negra e o trauma da altitude ainda estão nas declarações de todos na Gávea. A roubada de levantar a bandeira contra jogos em morros só faz com que o time e comissão técnica tenham cada vez mais certeza da impossibilidade de jogar de igual pra igual com o Cienciano em cima da serra. As declarações após a derrota de ontem marcam bem isso. A "situação difícil" ocorre porque o sonho rubro-negro era jogar em Cuzco sem depender deste resultado, ou seja, a brilhante idéia era descartar um jogo na primeira fase da Libertadores. É como se todos os times fizessem 6 jogos e o Flamengo, por opção, jogasse apenas 5. É quase pedir pra ser eliminado. Porque ganhar em casa e perder fora não "elimina" o adversário e, nesta fase, dos outros três concorrentes, o objetivo é eliminar dois. Todos têm um "curinga", um time que não é necessário eliminar, pois o segundo lugar garante a vaga. O Flamengo jogou o curinga fora baseado em uma viagem infeliz, a uma cidade boliviana que fica tão acima de Cuzco quanto Petrópolis está do Rio de Janeiro. Inventaram a inocuidade do jogo nos Andes tendo como base apenas um trauma particular.
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O Flamengo diz que jogar em Cuzco é uma tarefa inglória. Mas só o Flamengo acha isso. O resto do futebol latino-americano sobe a serra peruana, ganha dos caras (se tiverem um time melhor, se fizerem uma boa partida, igual a qualquer outro lugar) e voltam. Nenhum time de futebol, até hoje, sentiu os efeitos da altitude em Cuzco. Aliás, só um sentiu, o Flamengo, que nunca jogou lá.