segunda-feira, 5 de maio de 2008

LIBERTADORES É PRA MAIORES DE IDADE

(SE O FLAMENGO QUISER CRESCER...)
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Maracanã, 7 de Março de 2008.
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Que o Flamengo não existe sem o Maracanã e sua torcida, todo rubro-negro já sabe há muito tempo. Mas a derrota de ontem, 3x0 pro Nacional, no Uruguai, não deixou o Flamengo na situação difícil que estão dizendo por aí, inclusive o papai Joel. Ontem, um empate bastava pro Flamengo "eliminar" o Nacional no jogo da volta, mas papai escalou o time pra ganhar, Toró bateu em criancinha, Léo Moura esqueceu a chuteira na costela do uruguaio, Fábio Luciano confundiu rosto dos outros com tapete, Ibson tentou expulsar o árbitro e o Bruno fingiu que era o Diego. Tudo bem, merda feita, merda passada. Agora, teremos que ficar à frente do Cienciano, pra não depender de ninguém. E a altitude? Ai, meu Deus! Quem poderá nos salvar? O Chapolin salva, mas a história também.
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O Cienciano estreou na Libertadores em 2002 e, até o ano passado, jogou 5 das 6 edições que foram disputadas entre 2002 e 2007. Hoje ele está em sua sexta participação, só ficando de fora em 2003. Das 5 Libertadores que ele jogou, o Cienciano foi eliminado na primeira fase 3 vezes e caiu nas oitavas de final em 2002, ano de sua estréia, perdendo o jogo de ida, em Cuzco, por 1 a 0, pro América do México (que joga em casa a 2.200 metros - altitude que não gera efeitos relevantes). Em 2005, foi eliminado na pré-Libertadores, pelo Chivas Guadalajara (que joga em casa a 1.600 metros), perdendo em Cuzco, tão temida cidade, por 5x1!
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Entre 2002 e 2007, o Cienciano jogou 14 jogos pela Libertadores no Peru, com 8 vitórias e 6 derrotas (57% de aproveitamento). Jogou 12 jogos em Cuzco, com 7 vitórias e 5 derrotas (58% de ap.). E, desde 2005, jogou 7 jogos em sua cidade, com 3 vitórias e 4 derrotas (43%). 43% de aproveitamento, é bom repetir. Número igual ao do Flamengo em seus últimos 6 jogos fora de casa, pela Libertadores (2 vitórias, 2 empates, 2 derrotas. e 44% de aproveitamento). Só que o Flamengo ganhou os últimos 5 jogos no Maracanã e, 100% de aproveitamento, não é um índice pra peruanos.
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O Flamengo precisa crescer e entender que, em jogos na altitude de Cuzco, a qualidade técnica individual berra e os efeitos da falta de oxigênio mia, bem baixinho. Por exemplo, o Bolívar, de La Paz, capital mais alta do planeta, foi a Cuzco e perdeu de 5x1. Obviamente, não sentiu os efeitos da altitude, mas o time é uma porcaria, vai fazer o quê? O São Paulo foi a Cuzco e venceu o Cienciano por 2x0, simplesmente porque o time era bom, ora bolas, e o Cienciano sempre foi uma porcaria em Libertadores.
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O Flamengo tem que se preocupar mesmo, de verdade, com o Boca Juniors, e depois com o Arsenal e o Manchester United. O Cienciano, a gente vai lá, joga e ponto final. Sem dramas, sem levar uma derrota na bagagem, sem perder na véspera. Até porque todos sabem que quem morre de véspera não somos nós e, sim, o peru. (Perdão, tentei muito mas não consegui evitar.)
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O Flamengo foi a Potosí e ainda não voltou. Aquela viagem rubro-negra e o trauma da altitude ainda estão nas declarações de todos na Gávea. A roubada de levantar a bandeira contra jogos em morros só faz com que o time e comissão técnica tenham cada vez mais certeza da impossibilidade de jogar de igual pra igual com o Cienciano em cima da serra. As declarações após a derrota de ontem marcam bem isso. A "situação difícil" ocorre porque o sonho rubro-negro era jogar em Cuzco sem depender deste resultado, ou seja, a brilhante idéia era descartar um jogo na primeira fase da Libertadores. É como se todos os times fizessem 6 jogos e o Flamengo, por opção, jogasse apenas 5. É quase pedir pra ser eliminado. Porque ganhar em casa e perder fora não "elimina" o adversário e, nesta fase, dos outros três concorrentes, o objetivo é eliminar dois. Todos têm um "curinga", um time que não é necessário eliminar, pois o segundo lugar garante a vaga. O Flamengo jogou o curinga fora baseado em uma viagem infeliz, a uma cidade boliviana que fica tão acima de Cuzco quanto Petrópolis está do Rio de Janeiro. Inventaram a inocuidade do jogo nos Andes tendo como base apenas um trauma particular.
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O Flamengo diz que jogar em Cuzco é uma tarefa inglória. Mas só o Flamengo acha isso. O resto do futebol latino-americano sobe a serra peruana, ganha dos caras (se tiverem um time melhor, se fizerem uma boa partida, igual a qualquer outro lugar) e voltam. Nenhum time de futebol, até hoje, sentiu os efeitos da altitude em Cuzco. Aliás, só um sentiu, o Flamengo, que nunca jogou lá.